Livros do Prêmio Oliveira Silveira são lançados no aniversário da Palmares
terça-feira, 23 / agosto / 2016
A Fundação Cultural Palmares (FCP) completou, nessa segunda-feira (22), 28 anos de proteção, preservação e promoção da cultura negra no Brasil. Em comemoração, o dia foi repleto de atividades, que incluíram shows de samba, hip hop e percussão, sessão de cinema, apresentação de grupos quilombolas e o lançamento de cinco romances com temática afro-brasileira, publicado após seleção dos autores por meio do Prêmio Oliveira Silveira, lançado no ano passado. A programação especial de aniversário segue até sexta-feira (26).
Em cerimônia realizada na Caixa Cultural Brasília, o presidente da FCP, Erivaldo Oliveira rememorou a trajetória dos negros até o Brasil, as inúmeras opressões sofridas ao longo de nossa história e a impressionante capacidade da cultura de matriz africana se embrenhar e forjar os modos de fazer, de saber, de expressar, de crer, de contar, de celebrar, enfim, grande parte dos modos de vida que funda a brasilidade e sua diversidade, apesar de todas as tentativas de sufocar, ignorar e eliminar as influências dessa matriz.
“Esse povo já é vencedor por si só e nós queremos dar cada vez mais oportunidades a ele. Queremos que nossos irmãos negros ocupem lugar de poder, porque só com essas ocupações é que vamos fazer política verdadeira para o nosso povo”, afirmou Oliveira.
Em seguida, dedicou-se a resgatar a história da Fundação Palmares e o papel fundamental que essa instituição exerce seja na proteção, seja na promoção da cultura afro-brasileira, desde as comunidades remanescentes de quilombo até as comunidades das periferias, da cultura popular ao cinema negro, da religiosidade à preservação da memória da produção cultural de negras e negros.
Lançamento de livros
O ponto alto do primeiro dia de comemorações foi a solenidade de lançamento dos cinco romances selecionados no Prêmio Oliveira Silveira: Água de Barrela, de Eliane Alves dos Santos Cruz (Rio de Janeiro/RJ), Haussá 1815, de Júlio César Farias de Andrade (Rio Largo/AL), Sobre as vitórias que a história não conta, de André Luís Soares (Guarapari/ES), Sina Traçada, de Maria Custódia Wolney de Oliveira (Brasília/DF), e Sessenta e seis elos, de Luiz Eduardo de Carvalho (São Paulo/SP).
O evento contou com a presença da secretária-executiva do MinC, Mariana Ribas, do presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Marcelo Araújo, do vice-governador do Distrito Federal, Renato Santana, de deputados federais, de representantes de ministérios, de embaixadores e de outras autoridades.
André Luís Soares, premiado com Sobre as vitórias que a história não conta, destacou a importância do prêmio Oliveira Silveira. “É uma forma de chamar a atenção para a literatura negra, de dar oportunidade a quem se volta a escrever um pouco da história negra”, afirmou. “A literatura no Brasil, em grande parte, ainda é uma literatura de brancos, de elite branca, que conta sempre a história de uma mesma classe. A história costuma ser a versão dos vencedores e aqui é a história do povo sofrido, do povo escravizado. Vale a pena ouvir, vale a pena conhecer o outro lado”, destacou.
Para Maria Custódia Wolney de Oliveira, premiada com Sina Traçada, o prêmio estimula o surgimento de novas obras literárias sobre a cultura afro-brasileira. “Um edital como este estimula muitos autores, principalmente aqueles que trabalham nessa temática da diversidade cultural brasileira, a divulgar a historicidade brasileira, não só na ficção, mais onde a ficção e a realidade se mesclam, com o pano de fundo social. Além disso, resulta em livros que ajudam os jovens em seu aprendizado, de maneira paradidática, lúdica, a conhecer melhor a história do Brasil”, observou.
Oliveira Silveira
Integrante da comissão julgadora do edital, a professora Zélia Amador, da Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca que o prêmio é uma importante homenagem ao poeta negro Oliveira Silveira, que foi um dos líderes da campanha pelo reconhecimento do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. “Ele tem muita relevância para o movimento negro contemporâneo”, afirmou.
Também integrante da comissão julgadora, o professor Luiz Henrique Silva de Oliveira, do Centro Federal Tecnológico de Minas Gerais, ressalta que um dos objetivos do prêmio é combater o chamado racismo editorial. “Há vários romances de autores do quilate de um Machado de Assis, como Úrsula, escrito em 1859 por Maria Firmina dos Reis, ou Quarto de Despejo, de Carolina de Jesus, que a gente não ouve falar por conta desse racismo editorial”, destacou. “Quando se fala de autores negros, na literatura, o fenômeno que mais chama a atenção é o fenômeno da autopublicação. O que se espera é que o Prêmio Oliveira Silveira consiga ser uma ação de Estado, afirmativa, que começa lá atrás com a militância e penetra a espera pública por meio de uma Fundação que se coloca a resgatar e a promover a afro-brasilidade em todas as suas dimensões”, destacou.